martes, 6 de enero de 2015

Vergílio Ferreira, Invocação ao Meu Corpo, p.171.



“Porque justamente a morte se implica na violência amorosa, na negação colérica de toda a proibição. O acto amoroso é um assassinato mútuo simbólico. E é por isso que a sua paz final se investe da imagem da morte. No instante máximo, no instante único, uma chama vazia e intensa destrói toda a realidade – a do mundo e de nós. Como no sono, como numa anestesia, esse instante final é inimaginável e inanalisável, porque nada nele existe verificável e real. Como se uma vida nova que aí nasça exigisse precisamente o aniquilamento integral de nós próprios, a dádiva absoluta de nós, para que nada de nós reste que se não transmita. Gerar é transfundirmo-nos em tudo aquilo que temos. Uma vida nova exige a nossa morte, para que nada de nós se subtraia à dádiva ao futuro. Mas assim mesmo compreendemos que se tente instaurar aí um valor metafísico, que numa figuração do Todo tentemos reabsorver e justificar a aniquilação amorosa”



No hay comentarios.:

Publicar un comentario